Postagens

Mostrando postagens de julho, 2025

Volume IV: A Voz do Lago

Imagem
  Capítulo 4 – A Palavra que Quer Ser Vista Llyn Glaslyn – Três dias após a primeira manifestação flutuante 03h13 da madrugada Acordaram com o alarme. Os sensores visuais externos, apontados para a margem sul do lago, captaram movimento acima da superfície . Talia desceu com Hafiz e Dunne em silêncio absoluto. As imagens, ao vivo, mostravam o que não deveria ser possível: Um reflexo caminhando. Não o reflexo de alguém real. Mas autônomo . Ele caminhava devagar, descalço sobre a relva encharcada, como uma criança aprendendo a andar — mas com os traços de um adulto sem rosto, composto apenas de água trêmula em forma humana. A silhueta tinha braços, pernas e uma cabeça levemente inclinada. E no peito, pulsando como coração líquido: A palavra: Afânc. — Isso não é ele — sussurrou Talia. — Isso é o que ele está tentando construir . — Um corpo? — perguntou Hafiz. — Uma frase encarnada — corrigiu ela. O reflexo parou diante do grupo. Não falou com som. Mas projetou uma ...

Volume IV: A Voz do Lago

Imagem
  Capítulo 3 – Os Nomes que Flutuam Llanberis, País de Gales Dois dias após a imersão A vila parecia intacta. Telhados de ardósia, ruas silenciosas, o aroma de pão assado no ar. Mas havia algo... calado demais. Talia e Hafiz foram recebidos pela médica local, Dra. Elsi Morgan, que os conduziu discretamente até a escola primária da vila. — Eles começaram a sonhar — disse Elsi. — Todos na mesma noite. E continuam... todas as noites. As crianças estavam sentadas em círculo, desenhando. Não figuras. Palavras. Símbolos. Linhas curvas que se fechavam em formas impossíveis, repetidas com precisão entre elas. Talia reconheceu de imediato: as mesmas marcas que haviam aparecido nas pedras submersas do lago . — Eles não sabem o que estão escrevendo — disse Elsi, sussurrando. — Mas os pais estão... ouvindo essas palavras em casa. Quando dormem. Quando encostam o ouvido na água das torneiras. Talia tocou um dos cadernos. A criança que o desenhava olhou para ela. E murmurou: — “A água lembra. ...

Volume IV: A Voz do Lago

Imagem
  Capítulo 2 – A Profundidade que Fala Llyn Glaslyn, Snowdonia 06h11 – Missão de reconhecimento submerso O traje de Talia rangia sob a pressão. A água era turva, mas não escura — tingida por uma tonalidade leitosa, como se a própria luz ali se desfizesse em silêncio. Ao seu lado, o agente Hafiz operava os sensores hidrofonais. Dunne supervisionava a partir da superfície, mantendo o canal aberto. A 18 metros de profundidade, a vegetação cedia lugar a uma formação rochosa… impossível. Uma arcada. Três arcos de pedra suavemente curvados, com musgos que pareciam organizar-se em padrões de escrita — mas que só se tornavam legíveis quando não olhados diretamente . Talia aproximou-se, sentindo uma leve pressão atrás dos olhos. E então, um zumbido. Não do equipamento. Da água. — Estou ouvindo... não sons — murmurou. — Mas palavras… que não precisam de voz. Hafiz confirmou: — O sonar está captando reverberações rítmicas. Como leitura. Como se... a água estivesse nos escaneando. No centro d...

Volume IV: A Voz do Lago

Imagem
  Capítulo 1 – Onde a Água Sussurra Llyn Glaslyn, País de Gales 03h27 – Hora Local A névoa era espessa demais para ser natural. Flutuava sobre o lago como véu de algodão molhado, movendo-se contra o vento. Talia Kojo, agora comandante de campo da célula Liminares , observava a água a partir da margem de cascalho. Atrás dela, os agentes Dunne e Hafiz mantinham a cobertura — mas sabiam que ali, no escuro, nada que fizessem impediria o que quer que estivesse prestes a emergir. O silêncio do lago não era ausência de som. Era presença compacta . — Os pescadores disseram que ouviram uma voz — murmurou Hafiz. — Uma voz que os chamava... pelo nome. — Kalgh’ra também chamava — disse Talia, ativando o gravador mnemônico. — Mas o Afanc… ele puxa. Ela ergueu a mão. No centro da água, uma bolha surgiu. Seguiu-se uma ondulação, e então, uma forma indistinta. Não grande. Não monstruosa. Mas errada. Como um animal feito de partes conhecidas, mas com proporções incorretas. Algo entre castor e croc...