Volume IV: A Voz do Lago
Capítulo 2 – A Profundidade que Fala
O traje de Talia rangia sob a pressão. A água era turva, mas não escura — tingida por uma tonalidade leitosa, como se a própria luz ali se desfizesse em silêncio. Ao seu lado, o agente Hafiz operava os sensores hidrofonais. Dunne supervisionava a partir da superfície, mantendo o canal aberto.
A 18 metros de profundidade, a vegetação cedia lugar a uma formação rochosa… impossível.
Uma arcada.
Três arcos de pedra suavemente curvados, com musgos que pareciam organizar-se em padrões de escrita — mas que só se tornavam legíveis quando não olhados diretamente.
Talia aproximou-se, sentindo uma leve pressão atrás dos olhos. E então, um zumbido.
Não do equipamento.
Da água.
— Estou ouvindo... não sons — murmurou. — Mas palavras… que não precisam de voz.
Hafiz confirmou:
— O sonar está captando reverberações rítmicas. Como leitura. Como se... a água estivesse nos escaneando.
No centro do arco, uma placa esculpida, com um entalhe central: um símbolo circular cortado em três partes. Talia tocou.
Uma descarga.
E então, uma frase... não lida. Mas pensada diretamente nela:
“A língua nasce no espelho. O Afanc guarda a margem. Mas agora… a margem sangra.”
Ela recuou com a respiração acelerada.
E então o chão sob os pés deles tremeu.
Algo se moveu entre os arcos.
Não um ser.
Um reflexo.
Mas não havia superfície onde refletir.
A forma do Afanc os observava… debaixo da água.
Como se fosse o reflexo de uma criatura que não estava lá.
“Talia...” — sussurrou a mente dela. — “Volta antes que teu nome afunde.”
Eles emergiram com esforço.
A água parecia pesar sobre os corpos como se rejeitasse a saída.
Na superfície, Dunne os aguardava pálido.
— Recebemos um sinal da Estação de Transmissão em Aberystwyth. Eles registraram uma frase em latim... vinda do lago.
Talia arregalou os olhos.
— Em latim?
— Sim. Tradução: “A margem perdeu o espelho. O nome se esconde em pele.”
Talia olhou para o lago uma última vez.
E soube: o Afanc não quer atacar.
Ele quer impedir que algo se repita.
Porque ele já viu o que acontece quando a margem quebra.
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Estrutura arcada submersa
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Reflexos sem origem física
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Linguagem hídrica não fonética
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Sinais de que o Afanc guarda uma memória pré-Ak-Thur-ElConclusão provisória: O Afanc não é o monstro do lago. É o arquivo.
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