O Monarca da Névoa

    Nas vastas montanhas de Snowdonia, onde o vento uivava como uma lamento ancestral, e as nuvens se entrelaçavam com o céu até desaparecerem nas profundezas de um horizonte eterno, o Brenin Llwyd emergia da bruma como uma entidade mítica e aterradora. Conhecido como o "Rei Cinza" ou o "Monarca da Névoa", esse gigante sinistro caminhava pelas trilhas esquecidas de Gwynedd e Powys, em território galês, buscando almas perdidas que ousavam aventurar-se em seu domínio.

    A origem do nome Brenin Llwyd, que em galês significa "Rei Cinza", já deixava claro o quão imponente e temível essa criatura era. Ele era descrito como um gigante de proporções colossais, com pele pálida, quase translúcida, que refletia as nuvens densas que sempre o acompanhavam. Seu rosto, porém, era o verdadeiro terror. Em vez de características humanas ou animais, seu semblante parecia feito de pura neblina, uma máscara de vapor que mudava constantemente, fazendo-o parecer mais uma sombra do que um ser vivo. Seus olhos, quando apareciam, eram como abismos profundos, incapazes de refletir qualquer tipo de luz, tornando-o ainda mais macabro. Diziam que, à medida que o monstro caminhava, o terreno ao seu redor se tornava gelado, as árvores se curvavam, e o céu escurecia.

    A lenda do Brenin Llwyd era conhecida entre os habitantes locais como uma advertência para as crianças travessas ou os aventureiros imprudentes. Temido por ser um “ladrão de crianças”, o monstro se escondia nas nuvens e, quando caía a noite, ele surgia dos nevoeiros como um predador silencioso. Suas garras afiadas, mais longas que os galhos das árvores ao redor, pegavam as crianças despreparadas, levando-as para o coração das montanhas, onde se diziam que as almas das vítimas nunca mais eram vistas. Elas eram engolidas pela névoa e transformadas em ecos que sussurravam aos ventos, perpetuando a lenda do Brenin Llwyd como um espectro infindável.

    Em uma noite de outono particularmente densa, um grupo de montanhistas se aventurou pelas trilhas de Cadair Idris, em busca da beleza serena da paisagem noturna. As sombras aumentavam à medida que as nuvens desciam, formando uma manta espessa e fria. Mas, à medida que avançavam, começaram a perceber uma estranha sensação de desconforto — uma presença invisível, quase palpável, que os cercava. Uma névoa espessa começou a subir do chão, como se o próprio ar estivesse se tornando mais denso, mais opressor. O silêncio, por um momento, era absoluto, até que o som de passos distantes começou a ecoar através da montanha.

    Ao se virarem, não havia ninguém, mas algo estava ali. Algo invisível, que os observava. O medo tomou conta, e cada um começou a se afastar do grupo sem saber por que. O primeiro desapareceu sem deixar vestígios, a neblina o engoliu completamente, como se nunca tivesse existido. O segundo tentou correr, mas seus pés não conseguiam mais tocar o solo firme, como se o terreno abaixo dele fosse líquido. A neblina se esticava e se contraía, como se algo a estivesse manipulando com maestria.

    Quando o terceiro montanhista olhou para trás, viu, pela primeira vez, os olhos do Brenin Llwyd — profundos, vazios, como poços sem fim. O monstro não fez som algum, mas o simples olhar fez com que seu corpo congelasse, incapaz de reagir. No instante seguinte, o Brenin Llwyd se aproximou, seus passos invisíveis soando como um presságio, e com um único movimento de sua garra, a vida do homem foi extinta, engolida pela bruma fria e densa que sempre o seguia.

    No dia seguinte, a neblina desapareceu, e o terreno de Snowdonia voltou à calma habitual. Mas os ventos ainda carregavam os sussurros das vítimas, e nas trilhas, os ecos das crianças desaparecidas podiam ser ouvidos, lembrando a todos que o Brenin Llwyd continuava a espreitar, esperando a próxima alma perdida.

    A lenda do "Rei Cinza" não era apenas uma história do passado — ela era uma verdade inescapável, gravada nas montanhas como uma maldição eterna. Quem se aventurasse naquelas terras poderia ouvir o sussurro das nuvens, um convite para entrar no reino da névoa... e nunca mais sair.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A Besta de Gevaudan: O Retorno do Mal

Volume III: A Sombra entre as Copas

A Maldição de RootHollow