Volume III: A Sombra entre as Copas
Capítulo 12 – A Última Margem
Após o evento de Ennedi, o tempo voltou a fluir.
Mas não do mesmo modo.
Satélites de rastreio atmosférico mostraram pequenas anomalias na medição de marés. Mínimos atrasos em batimentos cardíacos coletivos durante horários de pico. E um fenômeno novo: registros de eco de voz onde não havia som. O nome Ak-Thur-El jamais foi mencionado novamente.
Porque ele não precisava mais ser dito.
Ele havia sido ouvido.
Otávio não voltou.
Talia sim — ou pelo menos, uma parte dela.
Encontrada dias depois nos arredores de Tamanrasset, desidratada, suja, mas com o olhar limpo.
Na triagem da Quimera, ela repetiu apenas uma frase:
“O silêncio tem margens. E nelas, há outros nomes.”
Helena, ainda oculta, deixou um arquivo criptografado para Talia. Apenas duas palavras: “Segue limpa.” Era uma benção. Ou um aviso.
No Conselho, Malik Dray foi removido. A Seção Escarlate perdeu autonomia. Uma nova célula foi criada: Quimera V – Liminares, sob comando provisório de Talia Kojo.
Seu foco: investigar possíveis manifestações de criptomemória aquática.
E, por fim, uma palavra deixada em uma pedra à margem do Llyn Glaslyn, no norte do País de Gales:
“Afan(c).”
Observação: Evitar contato direto com espelhos d’água até confirmação de padrão de voz reversa.
—
No aeroporto de Cardiff, Talia observava a névoa baixando entre os vales verdes. Helena reapareceria? Otávio ainda existia em algum lugar? O Bangenza voltaria a andar?
Ela não sabia.
Mas agora, ela ouvia o silêncio de modo diferente.
E no reflexo do vidro do avião, por um segundo, jurou ver algo que se mexia na água abaixo.
Não um rosto.
Mas dentes.
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