Entidade Desconhecida

Era uma noite abafada, o tipo de noite onde o calor parece se estender até as primeiras horas da madrugada, tornando o sono um desafio. Eu tinha uns 15 anos na época e, como a maioria dos adolescentes, estava começando a explorar a vida com maconha e álcool. Mas eu sempre achei que isso não tivesse muito a ver com o que aconteceu naquela noite. Não estava chapado, nem sequer meio bêbado. Eu já tinha experimentado coisas estranhas, mas nada como isso.

Estava deitado na cama, a posição meio fetal, tentando dormir. O som da casa velha — o rangido das madeiras, o zumbido distante da lâmpada no corredor — me envolvia como uma rotina comum. Tudo estava normal, até que uma sensação estranha se arrastou pela minha espinha, como se o ar tivesse ficado mais denso. Eu não ouvi nada, mas sabia que algo estava errado.

De repente, meu corpo girou.

Foi lento, mas decisivo, como se eu tivesse sido movido por mãos invisíveis. Girei 180 graus, no sentido anti-horário, e a sensação de desorientação foi tão intensa que quase perdi a capacidade de processar o que estava acontecendo. Não foi como um pesadelo, ou aquele momento em que você cai e acorda antes de bater no chão. Não, isso era real.

Tentei me convencer de que estava sonhando, mas sabia que não estava. Era algo além de qualquer coisa que eu já tinha experimentado. Eu não estava paralisado, não havia nenhuma pressão em meu corpo, nem a sensação de ser tocado ou agarrado. Era só o giro, uma mudança no meu posicionamento, como se algo tivesse decidido mover minha alma, e com ela, meu corpo.

Meu coração disparou. Minha mente estava em pânico, mas eu não conseguia gritar. O medo me paralisou, e eu fiquei ali, imóvel. Se alguém já viu um gambá no mato, se encolhendo ao perceber um predador, sabe o que estou falando. Era uma sensação primal, algo que me dizia que eu não deveria me mover. Eu não sabia o que fazer. Eu só queria que parasse.

— O que... o que foi isso? — murmurei para mim mesmo, a voz baixa, rouca.

Mas não havia ninguém para ouvir. Não havia ninguém para me explicar o que estava acontecendo. Olhei para o quarto, como se pudesse encontrar alguma explicação nas sombras que se arrastavam pelas paredes. Mas nada mudou. O quarto estava quieto, como sempre esteve.

— Quem está aí? — perguntei, tentando forçar uma reação, mas ninguém respondeu. A casa continuava como se nada tivesse acontecido.

A pressão no ar era constante, mas não havia nada tangível. Não houve aumento de temperatura, nem um arrepio mais forte. O silêncio era pesado, como se eu estivesse sendo observado. Só que... não por alguém. Por algo. E isso era ainda mais aterrorizante.

O giro parou. Fiquei na mesma posição por um tempo que parecia uma eternidade, sentindo o vazio. Algo dentro de mim sabia que aquilo não era o fim, que eu tinha sido tocado por algo além do natural, mas também sabia que o momento já tinha passado. O medo era uma sombra persistente, algo que se arrastava dentro de mim, e eu não sabia como expulsá-lo.

Não sei quanto tempo se passou, mas o medo permaneceu.

— Alguém... alguém já passou por isso? — perguntei em voz alta, não esperando resposta, mas desejando que alguém, em algum lugar, soubesse o que eu havia experimentado.

Mas ninguém nunca soube. Nunca mais aconteceu, e eu nunca falei disso com ninguém. Não porque não quisesse, mas porque eu não sabia como explicar o inexplicável. Aquele giro, aquela sensação de algo invisível, que não queria me deixar em paz, ficou comigo, uma marca profunda na memória, uma lembrança de que há coisas que não se podem ver, mas que estão ali, nos observando, esperando o momento certo para agir.

E eu ainda fico com a sensação de que, talvez, o que aconteceu naquela noite não tenha sido um acidente. Talvez eu tenha sido apenas um dos muitos que já cruzaram o caminho dessa... entidade desconhecida.

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