O Homem do Chapéu
Nunca fui uma pessoa dada a acreditar em histórias sobre entidades, alienígenas ou qualquer coisa do tipo. Na minha cabeça, tudo isso era invenção de quem queria chamar atenção ou passar o tempo. Eu evitava assistir programas de ficção científica e sempre ria de quem falava sobre abduções. Até aquela noite.
Era uma noite como qualquer outra, ou pelo menos parecia ser. Eu estava na casa do meu namorado, nos braços de um sono profundo, quando algo me acordou abruptamente. Não sei exatamente o que foi — talvez o som de um objeto caindo ou o frio repentino que percorreu a espinha — mas, quando abri os olhos, o quarto parecia irreconhecível. A luz fraca da lâmpada de cabeceira projetava sombras longas nas paredes e no teto, e o ar estava pesado, denso de uma tensão indescritível.
Eu me sentei na cama, ainda meio atordoada, tentando entender o que estava acontecendo. Meu coração batia mais rápido agora, como se algo estivesse prestes a acontecer. Foi então que eu vi: no canto do quarto, uma silhueta. Um homem-sombra, usando um fedora. Ele não estava bem definido, como se fosse uma figura borrada, distorcida pela falta de luz, mas... algo não estava certo. Eu não conseguia mover os olhos. Apenas observava.
No começo, tentei me convencer de que era apenas uma ilusão, um reflexo da minha mente preguiçosa. Um truque do quarto mal iluminado. Mas logo, esse homem-sombra começou a se mover. Lentamente, mas de maneira inexorável, ele se aproximava de mim. A figura começou a "glitchear", como se estivesse se distorcendo, como uma imagem de baixa resolução tentando se ajustar para ficar nítida. A cada movimento, ele ficava mais claro, mais... real.
A visão que eu tinha agora não era mais borrada ou distorcida. Quando ele se aproximou da cama, ele estava nítido, em uma clareza que parecia impossível, como se tivesse sido puxado de um pesadelo para a realidade, uma transição da mediocridade para a perfeição. Ele estava... perfeito. Cada detalhe de sua pele pálida e cinza, seus olhos grandes e negros, seu rosto sem expressão. A sensação de que ele estava observando cada um dos meus pensamentos foi esmagadora.
"Você é... você é real?" sussurrei, minha voz falhando.
Ele não respondeu, mas eu podia sentir o peso de sua presença, mais forte a cada segundo. Eu estava tremendo, o pânico apertando minha garganta. Os olhos dele estavam cravados nos meus, negros, vazios, como se ele estivesse me vendo por dentro. Eu não sabia o que fazer. Não conseguia me mover. Não consegui gritar. Só fiquei ali, encarando, como se houvesse uma força me mantendo imóvel.
Ele se aproximou ainda mais, até que seu rosto estava quase tocando o meu. Seus grandes olhos estavam fixos nos meus, e eu podia jurar que ele estava... olhando para minha alma. Eu sabia, sem dúvida, que ele era algo que não deveria estar ali, algo que não deveria ser visto.
"Quem é você? O que quer de mim?" consegui perguntar, minha voz era agora apenas um sussurro, frágil e desesperado.
Ele não respondeu, mas sua expressão... ou o que eu interpretava como uma expressão... parecia enojada, como se estivesse ali contra sua vontade. Como se ele estivesse tão infeliz quanto eu. Era quase como um confronto silencioso, um jogo de forças invisíveis. Eu queria sair dali, mas meu corpo estava paralisado, como se ele tivesse me preso em algum lugar entre o sonho e a realidade.
Então, no momento mais aterrorizante, algo estranho aconteceu. O homem-sombra parecia... quase derreter. Como se uma camada de seu ser estivesse se desintegrando diante de mim, mas logo se recompôs. Eu tentei me afastar, me debater, mas ao tentar me levantar, acabei batendo minha cabeça na cabeceira da cama. A dor foi instantânea e intensa, e com isso, a visão começou a falhar. Meu corpo se soltou, e tudo ao meu redor ficou turvo.
A última coisa que senti antes de desmaiar foi o som do meu próprio coração batendo forte demais, o som da dor na minha cabeça e uma sensação de frio que me percorreu inteira.
Quando acordei, estava sozinha na cama, com uma dor de cabeça insuportável. O quarto estava silencioso e normal, mas a sensação de que algo estava errado, algo tinha mudado, nunca me deixou. O homem do chapéu — ou o que quer que ele fosse — havia desaparecido, mas não pude mais ignorar o que eu sabia que vi. Ele era real. Eu tinha certeza.
E, mesmo depois de tudo isso, uma pergunta continuava a martelar minha mente: O que ele queria de mim?
Eu nunca encontrei uma resposta, mas uma coisa ficou clara: ele não era humano. Ele não era de nenhum lugar que eu conhecia. E, de alguma forma, ele sabia mais sobre mim do que eu jamais poderia entender.
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